sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Interlúdio

A poeira brilhante foi derramada incessantemente.
Efêmera e translúcida, fazendo parte de tudo.
Cada partícula que caía levemente tocava os seus cílios, fechava os seus olhos, a despia de um mundo de significados. Sua chuva levava embora, evanescia tudo o que ela pertencia, pois nada disso a possuía. Nada daquilo poderia defini-la, assim como não poderia definir ninguém.
Desceu de um altar de onde nunca esteve.
Lavou-se de sua máscara com suas lágrimas.
Tirou sua armadura deixando transparecer sua infindável contradição particular.
Olhos como portas. Portas das quais empurrava, agora sem nenhum esforço.
Segurou sua mão e o puxou para que pudesse ver de perto as árvores palidamente iluminadas, o céu e sua noite que não tinha fim. Suas escrituras, seus sonhos que se escondiam entre as sombras . . . sua floresta e sua tão inestimável história.
Entre todas as coisas, mais que palavras, gestos, canções e atenções . . . entre todo o seu sentimento que já não podia mais ser calculado . . .
Esse era o seu presente mais precioso, mais especial.
Mostrar o seu mundo mais profundamente secreto.
Cobrí-lo de seus pensamentos.
Fazê-lo adormecer na confusão de seus sonhos.
Fazê-lo com que a liberte de suas correntes.

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