sexta-feira, 19 de agosto de 2011

This lullaby

"Seus olhos estão brilhando?"
. . . Foi o que ele perguntou antes que ela pudesse acordar de seu sonho.
Mas que erro mortal! Seus olhos estavam abertos. Estaria mesmo tudo isso acontecendo?
"É só a luz que faz com que eles fiquem assim", ela respondeu enfim. Estava literalmente exposta aos holofotes e dessa vez eles eram reais, não eram mais os seus terríveis holofotes figurativos que a haviam deixado exposta diante de todos a algum tempo atrás. Esses daí já tinham apagado faz tempo. A platéia já havia se retirado. E agora só havia sobrado o escuro, o silêncio e a sua figura pálida, prostrada no meio do palco.
Isso não era o fim e ela sabia. . . esse era finalmente o começo. . . e algo crescia exponencialmente em seu peito (mais do que desejava e mais do que gostaria de admitir).
Era perfeito porque já não estavam mais presentes todos aqueles olhos injetados, esperando avidamente o próximo ato da peça. . . sentindo o gosto do veneno de baixo da língua. Era perfeito porque não havia ninguém para presenciar o que de mais sublime estava acontecendo. E no fundo, aqueles olhos não mereciam presenciar.

Estava em seu mais profundo estado de latência logo depois do furacão.
As folhas emaranhadas em seu cabelo, o vestido em frangalhos e os olhos petrificados.
Era assim como estava por dentro quando ele a viu e desviou o seu olhar. Ele.

Ele e seus dedos e suas cordas. Seu silêncio, sua incerteza, suas expressões.
Seus olhos agora não se desviam mais. Eles se fixaram em seu rosto. . . e sinceramente. . . ela não fazia ideia do que tanto ele conseguia enxergar.
Ele a segurou como se ela fosse um passarinho de asas quebradas, dentro de uma caixa de sapato e derramou sua canção em seus ouvidos. . . enchendo o seu coração daquilo de novo. Daquilo que a recuperava e que fazia com que ela não conseguisse respirar direito ao mesmo tempo. Só a simples ideia da ausência de sua sombra em volta de si já a assustava.

E assim permaneceram, imóveis no palco como se fosse a última cena, enquanto as luzes se esvaíam lentamente. . . onde só sobrariam. . . os olhos.

Um comentário:

  1. Escritoras engaioladas, somos tão óbvias com os fatos das nossas vidas, não é? 8D Lindo!

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