domingo, 9 de outubro de 2011

Encharcada

Com sua palidez e seus olhos injetados você vêm pra me amedrontar.
Saindo de seu lago negro e denso você me puxa como uma boneca de trapo . . . Fazendo questão que eu conheça sua profunda confusão, que me afogue entre suas algas negras . . . assistindo as bolhas de vida se esvaindo de mim, flutuando infinitamente até meus olhos serem incapazes de definir suas linhas.
Retrato distorcido e defeituoso, é você, meu reflexo no lago negro.
Dentro de seu mundo, que você diz ser meu, eu não conheço nada disso.
O piso de madeira rangia a cada passo. Poeira translúcida e teias cobrindo todos os frágeis elementos, os laços, a penteadeira . . . Envelhecendo-os de uma forma sombria como os olhos de todas aquelas bonecas. Espelhos quebrados, cortinas rasgadas e segredos trancados.
Minhas mãos tocam a superfície da janela e logo posso distinguir sua silhueta distante, tocando as grades do velho portão.
Seus olhos dizem "deixe-me entrar" Meus olhos respondem fechando-se, desejando sumir daquela dimensão.
Quanto mais a ignoro mais posso sentir sua presença . . . E o que não passava de um reflexo distante, agora se transforma em uma enorme sombra a um palmo de meu rosto, divididos pelo vidro da janela. Vidro este, esfumaçado com minha respiração.
"Deixe-me entrar"
"Deixe-me sumir", eu digo.
Sombras invadem toda aquela imensidão decadente.
Sombras me envolvem.
Sombras me calam.
Sombras me acordam e sussurram "está só em sua mente".

Um comentário:

  1. Tu fala de mim, mas olha só as imagens que consegue formar com as palavras! Como diria um amigo, é pura poesia visual :)
    P.S.: adorei muito o texto de baixo.
    P.P.S.: adorei esse também.

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